Criatividade sem fim!

Ainda no manto de Nyx...

Eis que uma recruta ainda tem criatividade para criar uma historia linda!

Chapeuzinho Prateado
Por recruta 19 (Kennis) 

Era uma vez uma linda semideusa filha de Deméter com um belo camponês. Deméter se apaixonou por seu pai enquanto ele arava a terra, sempre com o cuidado necessário para não agredi-la. Em toda época de colheita ele dedicava uma parte a todos os deuses e a maior à Deméter, seu grande amor. A menina se chama Liriel, pois sua casa era rodeada de lírios e ela sempre estava enfeitada por eles.
Um belo dia Liriel estava ajudando o pai a recolher os alimentos necessários para alimentar sua pequena família quando ouviu um grunhido baixo vindo da floresta. Liriel perguntou se o pai ouvira o barulho, mas ele não escutou, pois estava do outro lado do campo. O barulho ficou um pouco mais alto e lembrava um choro. Liriel ficou sinceramente preocupada, pois ela e seu pai viviam sozinhos naquela região e nunca foram atacados por animais selvagens. Ela consultou se poderia ir verificar o que era e o pai permitiu, desde que não passasse da primeira clareira. Ela não pegou nenhuma arma, pois não tinha. A menina sabia que tinha uma ligação especial com as plantas, pois a floresta sempre pareceu gostar dela. Então ela se armou apenas de sua compaixão e se aproximou da floresta, seguindo o barulho que se parecia cada vez mais com um choro.
Assim que passou pela primeira árvore ela perguntou se havia alguém precisando de ajuda e o choro que havia servido de guia parou abruptamente. Liriel, na inocência do final da infância e início da vida adulta, não percebeu que poderia ser uma armadilha e se preocupou mais. Entrou na floresta e andou até a primeira clareira, sempre perguntando quem estava lá e quem precisava de ajuda. Um movimento cerca de três árvores atrás da clareira chamou sua atenção. Ela parou no centro da clareira e perguntou quem precisava de sua ajuda. Não houve resposta.
A semideusa se aproximou do limite da clareira sem medo, pois sabia que as árvores não iriam atacá-la. Liriel sabia que havia animais selvagens na floresta, mas nenhum chegou perto dela, então não viu nenhum problema. Ela parou na frente da primeira árvore atrás da clareira e perguntou novamente. O choro recomeçou cerca de dez árvores depois. Ela olhou para a direção que vinha o choro e para trás, a direção de sua casa, pela primeira vez em dúvida. Havia prometido ao pai que não passaria da clareira, mas alguém precisava de sua ajuda. Ela mordeu os lábios, pensativa e encostou-se à árvore que estava na frente dela, transferindo o peso de seus pensamentos para o seu corpo.
A árvore gritou e Liriel também, se afastando abruptamente, perdendo o equilíbrio e caindo sentada na clareira. Liriel olhava para a árvore como se esperasse ver outra pessoa, mas a árvore continuava a mesma. Ela se levantou devagar e perguntou se havia alguém ali com ela. Silêncio. Ela se aproximou lentamente da árvore e apertou um de seus galhos. A árvore então disse:
- Qual é o seu problema, garota? Não tá vendo que isso dói? Quer que eu aperte seus braços também?
Liriel imediatamente tirou a mão do galho e pediu desculpas. Disse que não sabia que árvores falavam, muito menos sentiam dor. Apesar de seu pai sempre lhe dizer que a natureza devia ser respeitada como todos os seres humanos, ela não achou que fosse tão literal assim. A árvore pensou em responder de forma mal criada, mas percebeu que era apenas uma menina. De dentro da árvore, a Ninfa Venonoth pensou que aquela mortal deveria aprender uma lição. Então ela saiu de sua árvore e parou na frente de Liriel, dizendo:
- Sou um ser vivo tanto quanto você, criança. Mereço o mesmo respeito, se não mais, já que fui concebida pelo sangue de um primordial. O que você faz no meio da floresta sozinha? Eu demarco o limiar entre as coisas banais e as coisas perigosas. Porque estava olhando para lá?
Liriel olhou para aquele pequeno ser verde, de olhos puxados e um vestido verde claro e a achou linda. Sentiu-se muito mal e pediu desculpas por tê-la tratado com tanto descaso. Com relação às perguntas, respondeu:
- Estava ajudando meu pai na colheita e ouvi um choro. O segui até aqui, mas ele se afastou. Acho que é um pequeno animal ferido e estou muito preocupada, pois ele pode estar machucado. Pode me ajudar, por favor?
Venonoth havia ouvido o barulho também, mas não havia ligado pois estava se alimentando na hora, os nutrientes do solo eram riquíssimos e havia chovido na noite anterior. Ela olhou para aquela pequena mortal e pensou que a lição que ela aprenderia seria mais rica se tivesse a sua ajuda, afinal a melhor forma de respeitar a natureza é quando se depende dela.
 - Irei te ajudar, criança. Mas esteja preparada, atrás de nós há animais selvagens e famintos. Ainda quer ir atrás do choro?
Liriel pensou durante um tempo. Ela poderia ir embora e fingir que não encontrou a origem do choro, mas sabia que aquilo não era o certo. Ela sabia que alguém ou algo precisava de sua ajuda e seu pai sempre lhe ensinou que devia escolher entre o certo, não o fácil. Pediu desculpas em pensamento para o pai, por desobedecê-lo, e fez uma breve oração aos deuses. Pediu que eles a guiassem nesse caminho e a protegessem naquela floresta. Três deusas ouviram as preces da menina: Deméter, por sua ligação com a filha; Hécate, por ser a deusa dos caminhos e Ártemis, por proteger as donzelas e as florestas. E as três deusas sorriram para aquela menina de coração tão nobre e destemido.
 - Eu vou, bela Ninfa. – respondeu a semideusa. – Preciso ir. Sei que meu pai irá me perdoar quando lhe contar os motivos para entrar na floresta.
- Muito bem então, serei sua guia. Lembra-se de qual direção veio o choro e como ele parecia?
Liriel apontou para a direção com firmeza e respondeu que lembrava um pequeno animal. Elas seguiram naquela direção e após passarem a décima árvore entraram na segunda clareira e viram um pequeno filhote de cervo. Ele estava encolhido e uma de suas patas estava num ângulo estranho. A semideusa foi na direção do animal sem pensar e, quando estava a quatro metros de distância do animal, um lobo enorme pulou no meio, entre ela e o filhote.
O lobo tinha presas enormes e saliva escorria dos cantos de sua bocarra enquanto ele rosnava. O filhote se encolheu mais, apavorado com a aparição e sentindo o cheiro da morte que se aproximava rapidamente. Venonoth ficou apavorada e segurou firme nos dedos de Liriel. Não havia como voltar e era suicídio atacar o lobo. A Ninfa e a menina tremiam, congeladas, olhando para o predador.
O lobo então falou com um meio rugido, meio rosnado:
- Ora, carne fresca entrando de bom grado no meu território não pode ser desperdiçada.  Uma ninfa não é muito suculenta, mas uma garota? Hummm, já posso sentir o gosto do seu tutano... Sua carne me alimentará durante dias!
Venonoth ficou com tanto medo que se transformou em uma árvore, deixando a menina sozinha.
Liriel olhou para o filhote e pensou que ele nunca cresceria e se tornaria um belo cervo. Pensou no seu pai, que já havia perdido o grande amor de sua vida e perderia em instantes o fruto dele. Entristeceu-se por não ter podido se despedir e uma lágrima desceu dos seus olhos. Ela olhou para o lobo e soube o que precisava fazer. Soube que era o certo, mesmo que fosse o difícil. Ela olhou para o ambiente e localizou um galho do tamanho do seu braço caído bem próximo do seu pé direito. Ela se abaixou com muita calma e pegou o galho. O lobo, vendo aquilo, riu e disse:
- Você vai tentar me atacar com isso? Esse galho não é páreo para as minhas garras, muito menos para as minhas presas. Você está no meu território e mesmo assim tentará salvar o filhote? Corra menininha burra. Vou te dar uma vantagem, se você chegar ao início da floresta não te perseguirei.
Liriel olhou bem para o lobo e respondeu:
- Meu pai me ensinou que todos os seres vivos precisam de respeito. Você não parece faminto, então não precisa desse filhote. Deixe-o ir. Do contrário, eu irei enfrentar você. E levantou o galho de forma ameaçadora.
O lobo desdenhou:
- Ah é? Você e mais quantas? Caso não tenha percebido sua amiga virou uma árvore só de me ver.
A menina respondeu:
- Os deuses estão ao lado dos justos. Eles me ajudarão. Vá embora e nos deixe em paz!
Liriel estava apavorada, mas ela sabia que não conseguiria correr, muito menos chegar ao início da floresta. Aquele filhote precisava de ajuda. E ela não iria embora sem ele. O lobo então avançou para cima da garota.
            Ela ergueu o galho e quando o lobo pulou em cima dela, o galho subiu, arranhando toda a extensão da barriga do animal, que ganiu e caiu do outro lado, passando por cima da garota. Liriel correu para a direção do filhote e se posicionou na frente dele de forma protetora, ainda com o galho nas mãos. O lobo estava ferido, mas era preciso muito mais do que um mero galho para derrotá-lo. Ele se levantou com dor, com algumas gotas de sangue caindo de seu corpo, e furioso com a garota.
Quando ele ia atacar novamente uma claridade prateada iluminou o ambiente e, em todo o perímetro da clareira, apareceram garotas armadas com arcos e flechas apontadas para o lobo. Eram tantas que Liriel não conseguia contar, mas na frente, com um arco que brilhava como a própria lua, vinha uma garota que parecia ter a sua idade.  Ela falou diretamente com o lobo:
- Você tentou atacar um filhote indefeso mesmo quando não precisava. Tentou atacar uma donzela na floresta que tentava ajudar. Você desobedeceu leis muito antigas, sabia?
O lobo ganiu e se encolheu. Ele sabia quem eram as garotas. Sabia quem era aquela garota. E sabia muito bem o que acontecia com animais maus que atacavam sem necessidade.  A tal garota do arco muito prateado continuou:
- Por ter atacado um filhote do meu animal sagrado e uma donzela nos meus domínios, sua pena... É a morte.
A voz dela trazia uma força de tamanha hierarquia que fez até Liriel se encolher. O lobo tentou fugir, é claro. Mas foi alvejado de flechas e caiu não muito longe das garotas armadas. A menina que havia dado a sentença olhou para Liriel, mas não de forma ameaçadora. A filha do simples camponês sabia muito bem que seu galho não serviria de nada diante de tantas arqueiras e soltou sua arma. Ela não sabia o que fazer e como se comportar então apenas ficou parada, olhando e esperando com a respiração ofegante.
A tal menina levantou seu arco e o aproximou da cabeça. Ele diminuiu a ponto de virar uma faixa, com uma linda lua crescente no meio, e ela o colocou na testa, sobre os cabelos. Imediatamente todas as suas companheiras fizeram o mesmo e onde havia arcos, agora existiam apenas faixas com desenhos da lua.
 - Não tenha medo, criança. Não irei te fazer mal. Sabes quem eu sou?
Liriel respondeu, enquanto caía de joelhos:
- Lady Ártemis, a deusa da Caça. Desculpe-me por ter atacado um de seus animais, minha senhora. Estava apenas tentando proteger este filhote machucado.
Todas as palavras foram ditas olhando para o chão, já que ela estava diante de uma deusa e não ousava levantar os olhos. Ártemis fez um gesto com a cabeça e uma de suas Caçadoras recolheu o animal ferido, levando o filhote para um lugar um pouco mais afastado. Duas outras Caçadoras saíram da formação e foram atrás dela.
            Liriel permaneceu parada na sua posição sem ousar respirar mais forte. Havia visto o fim do lobo e por mais que cultuasse a deusa sabia que havia ferido um animal também. Ela se assustou ao perceber que a deusa, em sua forma de menina, estava diante dela e lhe estendia a mão. Hesitante, ela aceitou e se levantou com a ajuda divina. Ártemis então lhe disse:
- Você é muito corajosa. Ao defender aquele filhote você me defendeu também. Aquele lobo estava satisfeito e não precisava atacar. Você atacou para defender, mesmo quando podia ter corrido. Daria uma excelente Caçadora. Gostaria de se juntar a mim e minhas companheiras? Você nunca envelheceria e não iria precisar se preocupar com casamentos arranjados. O que me diz? Basta se comprometer comigo agora mesmo.
Liriel pensou na proposta, mas a lembrança do pai, sozinho e preocupado em casa, a assombrou. Ela não podia simplesmente ir embora e deixá-lo sozinho, sem a mãe e sem a filha. Ela sabia a honra que era ser convidada para a Caçada, mas sabia o que era o certo. Ela sorriu e disse da forma mais humilde que conseguiu:
- Minha senhora, é uma enorme honra receber tal convite, mas meu pai já perdeu minha mãe. Sou tudo que lhe restou. Não posso fazer isso com ele. Desculpe-me. E abaixou a cabeça.
Ela achou que a deusa iria ficar furiosa, mas pelo contrário, a deusa sorriu e respondeu:
- Tudo bem, respeito a sua decisão. Mas aceite uma ajuda final minha.
Ela estendeu a mão e uma Caçadora trouxe um manto muito semelhante ao dela própria. A deusa colocou o manto nos ombros de Liriel e disse:
- Esse é um dos mantos da Caçada. Use-o sempre que entrar numa floresta ou região selvagem e nenhum animal hostil se aproximará.
Liriel conseguiu murmurar um agradecimento, enquanto olhava maravilhada para aquele tecido tão leve quanto os raios do luar. Lady Ártemis e suas Caçadoras escoltaram Liriel até o início da floresta e se despediram com um aceno. Três passos depois a menina olhou para trás e não viu mais sinal delas.
Ela voltou para casa e contou tudo ao pai, que em momento algum achou que fosse mentira. A vida seguiu tranquilamente até cerca de um mês depois, quando uma viajante bateu à porta deles pedindo por água. O pai de Liriel abriu, a mandou entrar e se sentar. A viajante então contou, aos prantos, que havia sido assaltada, que bandidos haviam lhe tomado tudo e matado toda a sua família e que ela estava vagando há dias, sem ter o que comer ou onde morar.

O pai conversou com a filha e eles decidiram que aquela pobre mulher poderia morar com eles desde que os ajudasse com as terras, proposta aceita de bom grado. Cerca de um ano e meio depois nascia um lindo menino, filho do amor verdadeiro do casal. A família viveu feliz para sempre. Fim.


Até algum dia nessa grande galáxia!
Que a Força esteja com você !
Sub Tenente Obi Wana






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