História da semana: Clara, a filha de Hermes

Olá semideuses, aqui é a Cai ou Caimana como preferirem. Essa semana contaremos a história da Clara, a mais nova Caçadora filha de Hermes. E como a história é dela, ela vai contar tudo nos mínimos detalhes como tudo aconteceu.


Certo dia no acampamento das caçadoras, estávamos todas reunidas ao redor da fogueira, algumas conversando, outras cantando, outras assando marshmallow e eu estava achando tudo um tédio, até mesmo a Tenente jogando glitter na fogueira para ver se ficava mais brilhante não me animava. Quando alguém senta ao meu lado, era uma menina muito, muito baixinha, de cabelos loiros e sorriso meigo, porém, não me sai da cabeça o quanto ela é baixinha.

- Hey Clara, por que você não está se divertindo como as outras?
- Sei lá, Vênus, estou achando tudo tão entediante ultimamente.
- A quanto tempo você já está na caçada mesmo?
- A uns dois anos, por aí.
- E como você entrou?
- Nunca te contei essa historia?
- Não
- Então se prepare para uma historia de aventura, heroísmo, onde tive que ter muita sabedoria e agilidade, onde tive que superar todas as barreiras que...
- Ah cala a boca, só me conta logo.
- Tá, tá bom, tudo começou quando...

(Flash Black)

Era dia 1° de Abril de 2016, eu estava na escola, na aula de história estudando a cultura grega e eu achava essa matéria particularmente fascinante, mas o que me era mais fascinante ainda, era em como meu melhor amigo conseguia babar tanto enquanto o professor explicava, como eu conseguia ser amiga daquela criatura movida a sono? Eu também me pergunto isso até hoje. Mais tarde na saída da escola, eu e meu melhor amigo Thales resolveu revisar alguns fatos estranhos que já aconteceram comigo.


- Clara, sério. Não sei como você ainda tá viva.
- Nossa, obrigada em.
- Sério, lembra daquela vez que o carteiro começou a correr atrás de você com uma faca?
- Isso foi a muito tempo, nem me lembrava mais.
- Ou a vez que um mendigo tentou te bater com um taco de baseball.
- Eu só tinha 5 anos, não conta.
- Ok, quer uma mais recente? Lembra quando aqueles pássaros estranhos começaram a te atacar quando estávamos passeando na praça semana passada?
- Ah, coisas estranhas acontecem mesmo.
- Mas com você parece que é toda semana.
- Não é pra tanto.
- Serio, vai se benzer.
- Eu não, é capaz que eu entre em combustão espontânea se ousar entrar em uma igreja.

Rimos muito e eu falo:

- Cara, lembrei que tenho que buscar meu irmão na escola agora.
- Beleza, vai lá.

Saio da escola e vou buscar o terrorista do meu irmão que estudava no prédio ao lado, quando chego lá ele está liderando um bando de mini indiozinhos enquanto a supervisora está amarrada em um poste e eles dançam em volta dela. Sorrio e grito:

- Levi! Vamos embora.

Ele vem correndo com sua mochilinha verde nas costas e fala:

- Vamos.
- Você não vai me ajudar ?! – grita a supervisora.
- Nan, você tá indo muito bem - Respondo.

            Viro as costas e vou para casa com meu irmão, chegando lá, mando ele ir tomar banho e vou esquentando nosso almoço. Quando recebo uma ligação da minha mãe:

- Oi, mãe.
- Foi tudo bem hoje?
- O de sempre, o Thales é estranho, eu dormi em quase todas as aulas menos a de história e o Levi 
estava liderando a mini gangue dele.
- Ele fez alguma coisa muito grave hoje?
- Não, só prendeu a supervisora em um poste, começou a dançar com os amigos como se fossem índios em volta dela. Acho que era um tipo de sacrifício humano.
- Ah, o de sempre então. Escuta, hoje tem uma festa do pijama na casa do Henrique, ele convidou o seu irmão, arruma ele e leva, o presente está encima da minha cama. Amanhã cedo eu busco ele.
- Tá, mas você sabe se a mãe do Henrique tem seguro contra incêndio?
- Não sei, mas se ela não tiver. Provavelmente vai ter depois de hoje. Mais uma coisa, vou trabalhar hoje a noite, nos vemos amanhã, tá?
- Tá bom, tchau.
- Tchau.

        Depois do almoço, tirei um cochilo e depois fui arrumar o pestinha para levar a festa. Com tudo pronto, pego o presente e vamos andando até lá. A casa do Henrique era apenas a alguns quarteirões de distância, no meio do caminho encontro uma amiga da minha mãe, Raquel, ela me vê, dá um sorriso sinistro e me chama para conversar. Nunca fui com a cara dela:

- Oi Clara, o que está fazendo aqui essa hora? Sua mãe sabe que você está na rua agora com ele?
- Sim, estou levando o Levi para uma festinha na casa do colega dele.
- Mas e sua mãe?
- Está trabalhando.
- Então você vai ficar sozinha? Interessante.
- É, acontece.
- Tenho que ir, é hora de preparar o Fofucho para caçar. Até mais – Ela sai com um sorriso sinistro.
- Mas o Fofucho não era o chihuahua dela? – Digo pro meu irmão.

        Ele dá de ombros e continuamos a caminho da festa. Quando chegamos lá, a mãe de Henrique nos recebe com um sorriso no rosto e agradecendo pela presença. Entro por alguns instantes só para roubar uns docinhos da mesa e vou embora quando percebo que meu irmão começou a jogar bolinhas de papel no palhaço. Chegando em casa, decido a fazer uma sessão de cinema com vários filmes piratas e doces roubados da festa. Quando estava na metade do meu filme predileto: Truque de Mestre, alguém bate na porta, indignada grito:


- Quem é?!
- É a Raquel, Clarinha. Abra a porta.
- Raquel? O que você está fazendo aqui? – Pergunto ao abrir a porta, a mulher estava com o Fofucho 
e ambos pareciam bem animados com alguma coisa.
- Vim te fazer companhia.
- Bem, não precisava ter vindo.
- Que nada Clarinha, faço questão – Ela diz me empurrando e já entrando na casa.
- Eu já estava na metade do filme, se quiser ir embora – Eu realmente não queria ninguém comigo naquela noite.
- Ah não, obrigada, o Fofucho estava precisando mesmo caçar.
- Como assim?

            Ela dá um sorriso sinistro de sempre e solta Fofucho, que corre para mim e morde minha canela, olhando de novo para Raquel seu rosto e repente começa a ficar totalmente deformado, mais do que já era, rugas começam a aparecer em suas feições de modo que nem todos os quilos de maquiagem conseguiam tapar, seus cabelos antes lisos começaram a ficar emaranhados, tanto que parecia que algo vivo estava se mexendo lá dentro. Grandes asas de morcego aparecem e suas unhas artificiais se transformam em garras. Já assustada com a visão, escuto um barulho atrás de mim e quando olho, encontro Fofucho, ou o que deveria ser o cãozinho, agora transformado em um enorme cão com olhos vermelhos aterrorizantes. Fico olhando entre um e outro, quando os reconheço da aula de história. Mas o que um cão infernal e uma fúria estariam fazendo na minha sala de estar? Devo estar ficando louca, talvez tenha comido doces demais, seja o que fosse, eu não estava gostando nada.

- O QUE TÁ ACONTECENDO AQUI?
- Eu vou acabar com você pequena semideusa. Fofucho, hora do lanchinho, pega!

             Como um instinto natural, corro para a porta mais próxima, era a cozinha. Entro e fecho a porta, penso comigo mesma “Serio Clara? Cozinha? O que pode me ajudar aqui, uma faca? Não, seria inútil”. Do lado de fora ouço um grunhido alto e logo em seguida um impacto na porta, ouço também o que seria a melhor amiga de minha mãe gritar:

- Você não vai escapar de mim! Meio-sangue!

                        Ainda pensando comigo mesma, tento entender o que aquilo quer dizer, meio-sangue? O que eu poderia fazer? Mesmo sabendo que seria inútil, corro para pegar uma faca e nesse momento o cão gigantesco consegue arrombar a porta, por instinto eu arremesso a faca na direção dele mas o cabo da faca, bate em seu focinho e cai no chão, ele olha para a faca no chão, logo em seguida para mim e grunhe ainda mais alto. Começo a entrar em pânico, quando sinto uma correnteza na minha nuca, olhando para traz, vejo que a janela está aberta, sem pensar, quase como automático saio correndo e pulo a janela, tento correr o mais rápido possível e escuto a fúria gritar

- Sério Fofucho? Você ficou entalado na janela? Como diabos eu vou te tirar daí agora?

      
      Eu apenas continuo correndo, para onde eu posso ir? Já sei, para a casa do gordo, quer dizer, Thales. Caminho por mais ou menos meia hora até chegar lá, enquanto corro, sinto minha perna latejando, quando olho para baixo vejo que minha calça esta manchada de sangue, o cão deve ter acertado enquanto eu pulava a janela. 

         Já é tarde e ele deve estar dormindo ou jogando CS, chegando lá, não bato na porta, simplesmente escalo a árvore ao lado da janela dele e pulo para dentro. Para minha surpresa, ou não, ele estava jogando CS.  Ele estava de costas, com o fone de ouvido, quando chego perto e encosto para chamar a atenção dele, no susto Thales derruba um balde de pipoca que estava em seu colo e solta um grito

- MAS O QUE? Clara? O que você está fazendo aqui?
- A Raquel... fúria... cão infernal...azul
- O que? Não tô entendendo nada
- EU TAMBÉM NÃO ENTENDI
- Calma, senta, eu vou buscar uma água pra você.
- Eca, água.
- Tá bom, um refrigerante - Ele sai do quarto, voltando dois minutos depois com um copo de coca – 
Agora toma e respira, você tá bem? O que aconteceu?

            Tento contar tudo o que aconteceu pra ele, quando termino ele dá um sorrisinho e fala.

- Você anda lendo livros de mitologia demais.
- Não foi um sonho, eu tô falando sério.
- Para, Clara. Se esse for um novo tipo de zoação que você tá tentando fazer, eu não vou cair.
- É sério – Mostro a marca de arranhão – E isso aqui é o que?
- Você tá machucada ?! Espera, eu vou cuidar disso.
- Não, Thales! Me escuta! Tem uma fúria e um cão infernal me perseguindo, isso aqui foi o cão infernal.
- Clara! Já chega. Espera um pouco que eu vou pegar o kit de primeiros socorros.
           
       Alguns minutos depois, ele volta com uma caixinha vermelha, abre e começa a limpar a ferida. Dou sinais de que está doendo e ele começa a ser mais cuidadoso, limpa arranhão por arranhão com calma e logo depois enfaixa.

- Meus pais saíram hoje, dorme aqui e amanhã cedo conversamos melhor sobre isso. Você precisa descansar, tá bom?

- Não, eu não quero dormir, preciso resolver isso agora.
- Eu tô falando sério, descansa um pouco e amanhã conversamos.
           
       Paro de reclamar e deito na beliche de cima, me pergunto até hoje porque o Thales não desmontou essa beliche sendo que o irmão dele não mora mais aqui, deito a cabeça no travesseiro e quando meu sangue começa a esfriar, sinto a dor aguda na minha perna. Mesmo com dor, não demoro muito para adormecer.

            De repente, eu não estava mais no quarto, estava em uma praia, podia sentir a areia nos meus pés, o barulho das ondas do mar batendo em rochas. Quando olho pro lado vejo um homem correndo em minha direção, era alto, esguio porém com porte atlético, cabelos negros e olhos castanhos claros. Vestia uma camisa regata branca e shorts azuis escuros, vinha com um grande sorriso em minha direção, como se estivesse feliz em me ver.

- Você está bem? – Diz ainda meio ofegante.
- Não muito, minha cabeça está confusa – Por algum motivo, me sentia a vontade em conversar com ele.
- É sempre assim no começo, não se preocupe, tudo será esclarecido.
- No começo? Que começo?
- Lembre-se, você precisa ir para o acampamento.
- Que acampamento?
- Não temos muito tempo – Ele olha para o céu e um raio o atravessa – Apenas confie em seus instintos e vá para o acampamento.
           
             O homem da uma pequena mexidinha no meu cabelo, dá um sorriso e volta a correr pela praia. E mais uma vez, como um feixe de luz, outro raio cai, mas dessa vez na areia e então eu acordo, meu telefone toca, no visor posso ver que é minha mãe, atendo ainda com sono.

- Alô?
- Clara! Onde você se meteu menina? A casa está toda revirada! Tem sangue na janela da cozinha e a porta quebrada.
- Você está sozinha?
- Não, seu irmão está aqui.
- Tá, além dele, mais alguém?
- Não.
- Certeza?
- Tenho. Você pode me explicar o que está acontecendo?
- Estou indo pra casa, espera um pouco.

        Desligo o telefone e desço do beliche, Thales ainda está dormindo no de baixo. Decido não acordar ele e saio pela janela. Dessa vez, pego um ônibus e chego em casa com minha mãe esperando na porta

- Agora pode me explicar o que aconteceu?

            Conto toda a história da noite passada para ela, sua expressão muda apenas quando falo de Raquel, de resto, parecia que ela já esperava que acontecesse.

- Tudo bem, entre. Preciso te contar uma coisa.
- Onde o Levi está?
- Mandei ele ir tomar banho.

            Entramos, me sentei no sofá, agora com a perna latejando. Minha mãe foi até o quarto, pegou uma pequena caixa e se sentou a minha frente.

- Certo, preciso te contar uma coisa, não esperava que fosse tão cedo, mas vamos lá. Conheci seu pai em um bar aqui em Las Vegas, ele era bonito e estava de terno, parecia um empresário importante, disse que estava viajando a negócios, saímos juntos e foi uma noite incrível, porém,  quando acordei no dia seguinte eu estava sozinha no quarto e dessa noite veio você 9 meses depois, se passaram 8 anos e nós nos reencontramos, saímos novamente, só que dessa vez no dia seguinte ele estava lá, me disse que um dia vocês precisariam ir embora e eu tinha que deixar vocês irem, disse que coisas estranhas aconteceriam o tempo inteiro com você e com seu irmão, mas quando a hora chegasse vocês deveriam ir pro acampamento meio-sangue, não me falou exatamente onde ficava, mas fica em algum lugar de Long Island, disse que lá seria o único lugar seguro pra vocês viverem. Quando perguntei o que ele era exatamente ele apenas me disse que era o deus dos caminhos e dos ladrões, logo depois se levantou e foi embora.
- Tá, mas o que isso quer dizer?
- Que seu pai é um deus grego Clara, e você adora mitologia, já deve saber de qual deus estou falando.

E eu sabia, mas não podia acreditar, era muita informação, o que eu ia fazer agora? Eu não tinha ideia, então perguntei:

- E o que eu faço agora?
- Ele deixou uma coisa para você, me disse para entregar na hora certa e acho que essa hora é agora – Ela pega a caixinha que estava segurando e abriu, um colar com uma pedra verde ciano na ponta estava perfeitamente guardado lá – Isso é seu
- Um colar ? – Pego o colar e o coloco em meu pescoço – E o que eu vou fazer com isso?


- Puxe.
            Ainda sem entender, pego a ponta do colar e puxo com força. Agora o que antes era um colar, agora se transformou em um canivete. Era bonito, tinha alguns desenhos de cobras em bronze e sua casca era preta.

- Um canivete, certo. E o que eu faço com isso ?
- Ele me explicou brevemente o que é. Ele abre basicamente qualquer coisa, além de ter uma pequena faca eficaz contra perigos que você possa vir a enfrentar.
- Abre qualquer coisa ? – Olho fascinada para aquele  pequeno canivete e sem querer, quando o aperto, ele se transforma novamente em um colar em meu pescoço.
- Agora você tem que ir, leve seu irmão com você.

            Olhando para a porta do banheiro, vejo o pequeno nos encarando. Com sua cara de quem estava prestes a fazer mais alguma travessura. Vou em sua direção e me agacho, ficando da sua altura e o olho bem.

- Ei, o que você acha de fazermos uma viagem ?
- Pra onde ?
- Um lugar bem bacana e olha mais uma coisa, você não precisa ir mais pra escola - O rosto do menino se ilumina, como se fosse a melhor ideia do mundo, ele corre para o quarto.
- Posso levar meus carrinhos ?
- Claro, Levi.

            Enquanto meu irmão pegava suas coisas, quando comecei a arrumar minhas coisas, minha mãe aparece com uma mochila de emergência, que tinha literalmente coisas para emergência, como uma garrafa de água de um litro, algumas roupas, minhas e do meu irmão, um envelope com dinheiro e um cartão de crédito, produtos de higiene pessoal e varias barrinhas de cereal. Alguns minutos depois, meu irmão chega com sua mochilinha arrumada, olho dentro e acho os seguintes itens : uma maçã, uma laranja, uma bolacha (Não, não um pacote de bolacha, uma única bolacha mesmo), uma mamadeira com água, um paninho e seus carrinhos. Olho para ele e sorrio.

- Essa mochila tá mais bem feita que a minha.
- Eu sei – Ele pega a mochila, coloca a alça no braço e sai desfilando com ela até a sala.

            Olho para minha mãe, ela me entrega um frasco com o antialérgico do Levi e me acompanha até a porta. Ela se despede primeiro do meu irmão.

- Cuidado no caminho e obedeça sua irmã.
- Não precisa se preocupar, mamãe. Eu cuido dela.
- Eu sei que vai – Ela olha para mim e sorri – Vou ficar esperando notícias, cuidado.
- Tudo bem, vou tomar.

            Pego meu irmão e saímos, vamos para a parada de ônibus que ficava a alguns metros de casa, o único problema é : A casa da Raquel era bem em frente a parada. Enquanto esperávamos o ônibus para ir a rodoviária interestadual, vejo que tem alguém nos observando da janela, não consigo ver rostos, mas sei que é a Raquel. Ela sabia para onde estava indo e já sabia que eu descobri tudo, mas não iria fazer nada, não agora. O ônibus chega e entramos, seguimos para a rodoviária com a esperança de conseguir um ônibus que levasse a Long Island, chegando lá, passamos alguns minutos sentados e outros longos minutos em uma fila para comprar a passagem.

            Passamos cerca de 38 horas sentados no ônibus, foram cerca de três paradas, meu irmão dormiu praticamente a viagem inteira e quando não estava dormindo, brincava com seus carrinhos, ou tentava me atormentar de qualquer jeito e por último: correr de um lado para o outro dentro do ônibus e sim, ele achava isso maravilhoso, enquanto eu ainda ficava pensando nos acontecimentos. E além do mais, deixei o Thales sozinho, sai sem dar explicação e agora não tinha mais como avisar alguma coisa, espero que minha mãe fale com ele, não que explique tudo, porque sei que ele não iria acreditar, mas que pelo menos diga o porquê do meu desaparecimento e que um dia eu iria voltar para conversar e mais sessões de CS, pelo menos assim eu espero. Depois de um tempo, apaguei, felizmente (ou infelizmente), não tive mais nenhum sonho, apenas acordei na rodoviária de Long Island, com meu irmão me cutucando e tentando abrir meus olhos para cutucar lá dentro. Descemos e agora sim, eu não fazia ideia para onde iria, comprei um lanche e saímos de lá. Estava com um mal pressentimento, não sabia explicar exatamente o que era, mas de uma coisa eu sabia : Algo iria dar errado.

            Andando pela rua, pensando para onde ir agora, enquanto meu irmão brincava com seu carrinho como se fosse um carrinho voador. Vejo mais a frente três meninas, todas com calças camufladas e blusas brancas, aparentavam ter entre 13 e 15 anos e carregavam arcos nas costas, todas usavam tiaras, mas a do meio, uma menina mais baixinha, tinha uma que se destacava. Quando olho para meu irmão, vejo que ele está correndo para elas, corro atrás dele e escuto quando diz :

- Ei, posso ver seu brinquedo?
- Como? – Pergunta surpresa a menina da direita, ruiva e olhos castanhos
- Seu brinquedo – Ele aponta para o arco que está nas costas da menina
- Desculpem pelo meu irmão – Chego e pego na mão de Levi – Ele nunca viu um desses antes. Inclusive, belos arcos e desculpem de novo

            A menina mais baixinha, apenas olhava com uma cara que variava na dúvida e na surpresa. Pego meu irmão e começo a sair, quando a menina da esquerda, uma garota um pouco mais alta que a do meio e com cabelos enrolados que iam até um pouco a baixo dos ombros, tinha um sorriso simpático e uma voz calma.

- Espere ai, você consegue vê-los ?
- O que ? Os arcos ? Claro que sim – Digo um pouco sem entender.
- O que vocês fazem por aqui ? – pergunta a menina do meio.
- Eu e meu irmão estamos procurando um lugar... bem, eu não sei bem que lugar, nem onde ele fica. Tudo que sei é que é um acampamento e fica em Long Island.
- Você fala do Acampamento Meio-Sangue? – A garota ruiva pergunta com um olhar surpreso.
- Sim, espera. Mas quem são vocês?
- Pode me chamar de Bolinho, essa é a Tinne – ela diz apontando para direita – E essa é a Rob – ela diz apontando para a esquerda – Qual o seu nome ?
- Clara e esse é o Levi, meu irmão
- Tudo bem, sabemos onde fica o acampamento, querem ajuda?
- Sabem? Mas como?
- Digamos que visitamos nossos primos as vezes.
- Tudo bem, como faço para chegar lá?
- Terão que pegar um avião, o nosso acampamento e o que vocês estão procurando foi transferido pra Brasília, no Brasil , viemos aqui apenas buscar umas coisas, mas podemos te levar até o aeroporto e mostrar onde ele fica lá. Só precisamos de um transporte.
- Acho que eu posso conseguir isso, me deem um segundo.

            Olho em volta, encontro um carro prata, parece ser antigo e se visto de frente, tem uma carinha feliz. Puxo meu colar e penso comigo mesma : Se isso é um canivete universal ou não, está na hora de testar. Vou em direção ao carro e quando aproximo a chave dele, ela se transforma em uma chave de carro, parecia encaixar perfeitamente com a tranca e em alguns segundos, abro o carro sem maiores problemas e ligo.

- Pronto, alguma de vocês sabe dirigir ? – todas fazem cara de surpresa e Rob levanta a mão.
- Eu sei. -Ela diz.

            Todos entramos no carro, com Rob no volante, seguimos para o Aeroporto. Depois de algum tempo, já estava escurecendo e a estrada estava vazia. O lugar onde estávamos era rodeado de árvores. A estrada era reta, estava tudo ocorrendo bem, até ouvirmos um grunhido muito alto vindo do meio das árvores, quando olho para o lado, vejo um par de olhos grandes e vermelhos, era ele, o cão infernal, ele ainda estava lá e me seguiu até aqui.

- Tenta ir mais rápido.
- Por que ?
- Tem um enorme cão infernal seguindo a gente.

            Foi exatamente o tempo de falar isso, que o carro virou para o lado com um grande impacto. Girou muitas vezes e só parou quando bateu em uma árvore. Eu estava zonza, com a cabeça dolorida e com a visão ainda embaçada, quando o mundo volta aos eixos, vejo o cão se aproximando. Bolinho foi a primeira a sair do carro, seguida de Tinne. Enquanto ela preparava uma flecha para atirar contra o monstro, Tinne ajudava Rob, eu e meu irmão a sair do carro, logo depois, todas as três já estavam com seus arcos a postos, jogando uma chuva de flechas extremamente precisas no cão. Eu não sabia o que fazer, meu canivete não serviria para matar aquilo, fiquei com o meu irmão observando de longe, mas tinha esquecido de um detalhe, se o cão estava aqui, a fúria também deveria estar em algum lugar. Pensei nisso tarde demais, quando olhei para trás ela já estava com meu irmão nos braços.

- Você foi longe, semideusa. Mas o que se pode esperar da filha do deus dos viajantes? É uma pena que não vá mais longe que isso.
- Solte ele, agora.
- Por que ? Nenhum de vocês vai sair daqui com vida, aquelas caçadoras estão ocupadas demais com o Fofucho, não podem te ajudar.
- Solta.
- Tudo bem, se você insiste. – Ao soltar ele, ela fincou as garras no peito e saiu rasgando até a barriga. Ele caiu no chão, sangrando.
- LEVI!
- Clara, abaixa! – ouvi a voz da Bolinho gritando ao fundo, mas ela não precisava gritar para que eu me abaixasse. Foi tão rápido que não sei exatamente como, mas eu já estava lá, ao lado do meu irmão, segurando ele. Uma flecha atravessou ao meu lado, acertando em cheio o peito da fúria, que se dissipou em um pó dourado.

            Eu não sei o que aconteceu com o cão, também não sabia o que tinha acontecido ao meu redor ou como a fúria tinha virado pó. Só sabia que meu irmão estava nos meus braços, sangrando muito e não tinha nada que eu pudesse fazer.

- Ei, Levi, consegue me ouvir? – Ele não me respondia, só estava deitado. – Levi?

            Cada vez que eu chamava por ele e ele não me respondia, meu desespero aumentava, eu não 
sabia o que fazer só ficava cada vez mais perdida , queria gritar, mas minha voz não saia mais, simplesmente sentia umas das minhas razões de viver, escapando dos meus braços e não podia fazer nada para mudar e o que eu iria fazer agora ? Como que eu acordaria sem aquela criatura me cutucando ? como eu simplesmente conseguiria sobreviver cada dia sem seu sorriso, seu abraço, suas travessuras? Eu não Conseguia pensar em mais nada só doía, quando eu simplesmente sinto o peso do corpo dele deixar meus braços, vejo uma luz muito forte e essa luz atravessar o céu e se transformar em uma estrela. Depois disso não me lembro de mais nada.

(Flash black off)

- Quando eu acordei, já estava aqui no acampamento, as meninas me trouxeram nos Pégasos delas e eu precisava me curar, estava muito ferida. Depois de um tempo Lady Ártemis me visitou, explicou que Hermes também é o deus da astronomia e transformou Levi em uma estrela, me ofereceu um lugar na caçada primeiro como Arktoi e depois fiz o teste para me tornar caçadora. E essa é a história de como vim parar aqui.

           Olho para Vênus, me lembrando daquele dia e de como todas as noites eu olho para o céu, para sempre me lembrar dele e nunca tirar do meu coração. Ela sorri e pergunta :

- Qual dessas é ele ?
- É aquela ali, no meio. Que está cercada pelas outras, minha teoria é que seja a nova mini gangue dele.

            Olho para o resto das meninas, todas estavam prestando atenção na história e agora todas estavam olhando para o céu, vendo a estrela mais brilhante que tinha lá. Ele se foi, mas ele está todos os dias comigo. A minha mini estrela, que não importa onde eu esteja, sempre vai estar comigo e eu nunca esquecerei. 


" Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida. -Platão"
 Clara 🏃‍♀️


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