Aurora se levanta e abraça Kennis.
- Ai que história linda... Kennis, eu quero te dizer, em nome de todas nós, que você é muito importante para nossa família e você é uma caçadora, tanto de coração quanto no nosso dia a dia. O nome "caçadora" é só isso, um nome. As suas ações é que são dignas de uma caçadora.
-Bem... eu não estou me aguentando mais. Eu PRECISO contar a minha história. Posso Cami? Posso? Posso? Possooo?-Aurora deu aquele sorriso irritante que ela faz quando pede as coisas e a Cami, querendo acabar logo com essa "pedição", deixou.
-Obaaaaaa, então, eu vou começar
- Ao contrario do que muitas de vocês podem pensar, a minha mãe não é
uma atriz, nem uma musicista ou poeta, muito menos uma médica. Ela é uma
dançarina. Ela é uma daquelas dançarinas que dança com sua alma e seu coração e
ama muito o que faz, acredito que foi isso o que fez Apolo se interessar por
ela. Na época ela morava no Rio de Janeiro e eles se conheceram após um
espetáculo de dança com o tema “ Aurora Boreal, o que as cores não podem
contar”. Minha mãe fez um solo de jazz representando o azul, a cor da calma,
serenidade , confiança e lealdade ( eu ate descreveria ele, mas eu não era
nascida então imaginem uma dança que representa tudo isso ) e Apolo se encantou
com sua performance . Após o show ele foi ao seu camarim e ele a entregou um
buque de rosas azuis.
Segundo ela, ele era um homem alto, forte, bronzeado de olhos dourados,
“praticamente um deus”. Ele usava um terno preto com um pingente de uma coroa
de Loureiro em seu bolso, mas ele não parecia muito confortável naquela roupa.
Ela estava realmente encantada. Ele a elogiou e disse que havia eras que não
via alguém dançar daquela maneira, mas assim que ele lhe disse seu nome ela
riu. “ Apolo? É sério? Além de ser bonito, tem um nome de deus? Por acaso você
é um stripper que a Rute contratou? Aquela mulher... Tem que aceitar que eu não
quero fazer isso agora”. Ele ficou sério por uns instantes até que começou a
rir e disse:
-Droga, me pegou. Eu sou muito perfeito para ser um homem comum que
veio te elogiar, não é?
- Até que é...- disse ela já um
pouco constrangida. – Então, já que você não terá trabalho aqui, poderia se
retirar, por favor? Eu preciso tirar a maquiagem.
- Só quando eu for pago- Disse dando aquele sorriso sedutor e se
aproximando dela aos poucos até a colocar contra a parede.
Seu coração acelerou, ela queria beijar aquele homem maravilhoso, mas
não podia porque tinha medo de se apaixonar e perder alguma oportunidade de sua
carreira (e porque acabou de conhecer o cara). Então ele aproximou o seu rosto
do dela e ela continuou parada na parede até que ela viu um brilho intenso
saindo dos seus olhos e viu lá dentro, um bebê. Ela se abaixou , saiu dos seus
braços e correu até a porta.
-Saia, se quiser o seu pagamento
fale com a Rute porque eu não vou te dar nada!
Ele parecia
impressionado (quando ela me contou essa história disse que ela foi uma das
poucas pessoas que resistiu ao charme do meu pai no “primeiro encontro”) e saiu
um pouco desapontado, mas com aquela confiança irritante dele.
Na apresentação seguinte ele
retornou, mas dessa vez com rosas amarelas. Assim que ela o viu, fechou a
porta.
- Saia daqui! Eu já disse que
quero nada disso! - Ela gritou através da porta.
- Olha, se você não gostar de
amarelas posso fazer azuis de novo. – Ele passou uma pétala de rosa amarela por
de baixo da porta que, assim que terminou de passar, se tornou azul.
-Como você fez isso?! - Ela
olhou pelo buraco da porta - Além de Stripper
você também é mágico? - Ela
realmente estava surpresa.
Ele riu de novo, mas dessa vez
bem alto. A gargalhada dele parecia um coro de várias pessoas com vozes
maravilhosas. Estranha, mas estranhamente linda.
- Você ainda acha que eu sou um
Stripper, isso é hilário. Com certeza Dionísio vai fazer piada disso! Você
precisa ver, ele é uma comédia quando passa um século bebendo.
Ela abriu a porta com cuidado e
o inspecionou do chão ao topo de sua cabeça loira. Ele estava usando agora um
terno branco, um pouco fora de moda em sua opinião, mas aparentemente nada
ficava feio naquele homem. O pingente continuava lá, mas agora ela percebeu que
suas abotoaduras eram dois arco e flechas virados para o centro.
- Pode fazer aquele truque das
flores de novo?
- Mas é claro, querida. – Ele pegou uma das rosas do buquê e ela
instantaneamente mudou de cor.
“Aquilo não é possível, só pode
ser um truque”- pensou ela
-Não, não é um truque.- ele
pareceu pensar melhor- Certo, isso foi um pequeno truque , mas eu posso fazer
muito mais. Segure a minha mão. – Ele estendeu a mão para ela.
Ela relutou um pouco, mas era
curiosa e o cara era bonitão. Ela lhe entregou a sua mão e o teto do seu
camarim mudou. O que ela via era o sol, e ele estava tão próximo que ela
poderia até toca-lo, mas sua luz não a cegava nem o seu calor a queimava. Ela
olhou para os lados e percebeu que estava em uma praia, o sol não estava mais
tão perto quanto estava antes e o homem havia mudado de roupa. Seu coração
acelerou. Ele estava sem camisa, usava um short de surfista e um óculos de sol
na cabeça. Ela precisava admitir que o tanquinho era bem bonito.
A praia parecia vazia, mas tinha
um guarda sol e duas cadeiras estrategicamente localizadas na areia. Ela ficou assustada com tudo isso e puxou sua
mão de volta.
-Quero voltar! –Disse ela
assustada, mas igualmente encantada.
No mesmo instante ela voltou para o seu velho e bom camarim e se sentou
na cadeira em frente ao espelho.
-Quem...é você ?
- Eu já lhe contei, sou Apolo. Agora você acredita?
Ela balançou a cabeça afirmando.
- E o que você quer?- Ela bebeu um pouco de água para se acalmar.
-Bem, eu vi você dançando. Impressionei-me! Olha que não é fácil
impressionar O deus das artes! Principalmente porque eu sou muito exigente e
não gosto de nada menos do que algo no meu nível, a perfeição!
Ela revirou os olhos, já não estava mais assustada. Aquele homem era
extremamente egocêntrico, mas tinha charme.
-E... O que você quer comigo?
-Quero dançar com você. Vou te
encontrar amanhã a noite, às 19. E não aceito um não como resposta.- Ele sorriu
. Até agora, seu sorriso era encantador.
Antes que ela pudesse falar alguma coisa, ele já tinha sumido.
No dia seguinte ela percebeu que ele não explicou nada além do horário
e do dia. “Onde seria? Para onde eles iriam? Ela precisava pensar na roupa”,
mas aí ela percebeu sua situação. Um deus, literalmente, queria dançar com ela!
Ou ela era muito boa ou muito boba porque era bom demais para ser verdade. Ela
ficou imaginando várias situações, caso ele fosse realmente um deus e caso ele
fosse um stripper mesmo. Até pensou em
chamar a policia, mas como explicaria? Então a campainha de seu apartamento
tocou.
Ela olhou pelo olho mágico, mas estava muito claro e ela só conseguiu
ver luz. Ela abriu a porta e se deparou com aquele homem lindo, sarado e
musculoso. “Bem, acho que só dançar não vai fazer mal”, pensou ela.
O homem sorriu para ela e a derreteu por dentro.
-Vamos? Eu conheço um lugar ótimo para irmos.
Segundo a minha mãe, essa foi a noite mais maravilhosa de sua vida.
Eles dançaram muito, ela pôde ouvir ele cantando uma musica que fez para ela (a
letra não era muito boa, mas a voz era excelente) e no final, eles tiveram a
última dança em seu apartamento.
Adivinha quem não ligou no dia seguinte? Isso mesmo, a minha mãe. Ela
estava certa de que se envolver com esse cara era perigoso, principalmente se
tratando de um deus. A noite foi bem divertida, ela tinha que admitir, mas não
podia se apaixonar agora, estava no auge de sua carreira. Apolo até tentou se aproximar, mas minha mãe
era determinada e aparentemente isso o deixava mais interessado.
Na semana seguinte, ele apareceu em seu apartamento. Desta vez, ele não
estava mais tão alegre como de costume, parecia preocupado com alguma coisa.
- Tome, dê a ela quando estiver pronta para sair de casa e eu vou fazer
o máximo para dar proteção a vocês enquanto ela não puder se cuidar sozinha.
E... Desculpe-me, eu realmente não queria acabar com a sua carreira... – Ele
colocou uma coisa brilhante na bancada e desapareceu.
Minha mãe ficou com muita raiva, não sabia o porquê, mas acredito que
só de mencionar que ele acabou com algo tão importante para ela a tirou do
sério.
Ela foi até lá e pegou o item. Era uma das abotoaduras de arco e flecha
dele, mas assim que ela a tocou se tornou um pingente de colar que foi jogado
em questão de segundos dentro de uma caixa de jóias. Bem, essa foi a última vez
que ela o viu em 18 anos.
Um dia depois, ela descobriu que estava grávida. Com certeza ela pirou
um pouco, mas ela tentou não parar de dançar. Infelizmente, a barriga cresceu
muito e ela não tinha mais espetáculos para dançar (e sim, ela dançava grávida
de mim) e se retirou da dança por um tempo para queria cuidar de mim. Graças
aos deuses (ou não), ela não colocou a culpa do fim de sua carreira em mim e
sim em Apolo, então sua raiva ia para ele.
Como dá para perceber, meu nome foi em homenagem àquela noite, a noite
em que ela dançou tão bem que chamou a atenção do deus das artes e a noite em
que ela foi única.
Ela se mudou para a casa da minha avó antes de eu nascer, em Brasília,
e começou a ensinar dança. Eu e ela somos muito próximas, mas mesmo assim ela
escondia o segredo da identidade do meu pai de mim. Até que certo dia, acredito
que eu tinha 15 anos, eu estava voltando do colégio e vi um grupo de garotos
gritando em roda em um lugar atrás da biblioteca de seu colégio. De repente
ouvi um choro de animal e no mesmo instante corri até o grupo de 5 garotos. Os
empurrei para ajudar o pobre animal, mas fui empurrada para fora (aparentemente
eles estavam muito focados em maltratar o bichinho), mas consegui ver qual
animal era.
Era um cachorro muito grande, com aparência de lobo. Ele era branco e
preto com olhos bem negros, acredito que chegaria ao meu peito quando sentado e
parecia muito machucado. “Como esses meninos atacaram um cachorro tão grande?”
pensei. Era certeza que eu não iria
deixar aqueles moleques machucarem mais o LoboCão (vamos chama-lo assim, por
enquanto) e pulei em cima do mais próximo
e comecei a bater na cara dele (sim, sou dessas). Ele tentou se soltar
de mim, mas acabou empurrando o cara que estava ao lado e os dois caíram no
chão junto comigo. Vi a oportunidade e peguei uma pedra.
- Saiam daqui e ninguém sai mais ferido - disse olhando para os dois no
chão.
-Ah é? E você vai nos atacar com essa pedrinha? – O maior, que estava
no meio, mas um pouco afastado riu e os outros acompanharam.
-Vou sim - E no instinto eu joguei a pedra nele. Aparentemente,
estávamos a uma distância de 15 metros, mas eu o via na minha frente com
perfeição e ele realmente parecia um alvo fácil.
A pedra caiu perfeitamente no meio de sua testa e ele caiu no chão. Eu
sempre tive uma mira boa e fico feliz toda vez que eu acerto o que quero. Os
outros ficaram de boca aberta e saíram correndo levando o seu “chefe” para
longe.
Fui até o cachorro que agora não parecia mais um LoboCão e sim um
pequeno Shih-tzu.
Na hora, eu fiquei confusa, mas não ia negar ajuda àquele pobre animal. Eu me ajoelhei ao seu lado e segurei uma das patas machucadas desejando que ele ficasse bom logo para correr por ai. Então aconteceu.
Na hora, eu fiquei confusa, mas não ia negar ajuda àquele pobre animal. Eu me ajoelhei ao seu lado e segurei uma das patas machucadas desejando que ele ficasse bom logo para correr por ai. Então aconteceu.
Saiu um brilho estranho da minha mão e a pata do Shih-tzu estava
curada. Ele olhou para mim tão surpreso quanto eu e nós ficamos nos encarando.
Subitamente, uma espécie de Névoa cobriu o seu corpo e o LoboCão havia
aparecido novamente. Ele se deitou e esperou que eu fizesse carinho nele e
assim que eu o toquei ele lambeu a minha mão.
- Você tem casa, amiguinho? Acho que se você ficar como um cachorro
pequeno minha mãe vai me deixar ficar com você. Posso te chamar de Nico?
Ele parecia feliz com a ideia, seu rabo parecia um espanador indo
freneticamente de um lado para o outro, mas ele parou de repente e saiu
correndo até eu o perder de vista.
“Isso foi estranho, mas acho melhor eu ir para casa.” Pensei imaginando
o que poderia ser esse cachorro estranho e como ele se recuperou tão rápido.
Assim que virei a ultima esquina até a minha casa vi que aqueles
garotos estavam encostados no meu portão.
- Eu disse! Ela tem o brilho do sol! – disse o mais baixinho entre
eles.
- Pois é, essa ai foi fácil de rastrear, ela veio ate nós! - disse o
que parecia o “chefe”
-Ouvi falar que os semideuses de Apolo ficam uma delicia defumados.
Quero uma vingança pelo o que ela fez com o meu rosto - acho que esse foi o que
eu pulei na cara.
Eu me escondi atrás do carro mais próximo. “Do que eles estavam
falando? Eu brilho?! Esse povo deve estar maluco!” pensei sem saber o que
fazer.
Certo, eu sabia que não podia ficar ali para sempre. Olhei para os
lados e vi que tinha algumas pedras e um galho não muito grosso que se dividia
em dois nas pontas. Não pensei duas vezes, tirei o amarrador do meu cabelo e
prendi nas duas pontas dos galhos. Peguei algumas pedras, as coloquei no meu
bolso e coloquei uma no estilingue improvisado. Respirei fundo e me levantei.
Já estava um pouco escuro, mais ou menos umas 18:30h e as luzes do
poste já estavam ligadas.
- Estão me procurando? – Perguntei com o estilingue abaixado, mas
pronto para puxar e atirar.
Eles me olharam por alguns segundos, da cabeça aos pés e então o chefe
riu.
-Por alguns instantes achamos que você era uma humana normal, mas
agora... eu me lembrei que o brilho dos filhos de Apolo só se emana durante o
dia. Peguem ela.
Os dois garotos que estavam ao seu lado correram em minha direção. Eu
consegui atirar no espaço entre os olhos do garoto da esquerda e esse caiu no
chão reclamando de dor. Eu não consegui recarregar a outra pedra a tempo e esse
chegou perto de mim, mas quando ele ia me socar eu vi um vulto muito rápido
passando entre ele e eu, e o garoto caiu no chão.
Na minha frente estava aquele LoboCão rosnando ferozmente para o garoto
caído. Ai eu pude ver que não só o garoto na minha frente, como todos os outros
tinham apenas um olho (É , eu lancei a pedra no lugar certo sem saber que eram
cíclopes). O garoto se levantou e saiu correndo. Os outros 3 que estavam em pé
pegaram o que estava caído e saíram gritando:
-Isso não acabou semideusa! Nós vamos voltar! E com o nosso pai!
O LoboCão veio até mim com a
língua de fora e o rabo abanando. Fiz carinho na cabeça dele e ele se sentou.
“Acho que ele não vai embora dessa vez”- pensei.
Depois de uns dois segundos
sentado, a névoa estranha apareceu novamente e ele virou um cachorrinho.
- Fica assim que eu te consigo
um lugar para morar. Vou te chamar de Nico mesmo.- Disse abaixando até a sua
altura. Ele parecia bem feliz com a ideia e latiu (Acho que ele disse “ Adorei
a ideia”).
Ele me seguiu até minha casa e
eu tentei entrar em silêncio, mas aparentemente esse não era o plano do Nico.
Ele chegou correndo para todos os lados assustando a minha avó que estava
dormindo em sua poltrona e borrando as unhas da minha mãe que tinham acabadas
de ser feitas.
- AURORA JULIANA MARIA BIM DE
SOUZA LEVESQUE GOMES IPANEMA DRAMA Y-PIRANGA! ME EXPLICA O QUE ESSE CACHORRO ESTÁ
FAZENDO AQUI!- minha mãe já estava indo para a sala me dar um sermão quando a
campainha tocou.
Minha avó viu a oportunidade
para sair de fininho e foi para o seu quarto. Minha mãe apenas apontou para a
porta sinalizando para eu abrir e lançou o olhar de “ Depois conversamos”.
Fui até a porta e o Nico me
seguiu rosnando para ela. Abri-a com cuidado e me deparei com dois homens muito
grandes, cada um com mais ou menos o dobro da minha altura.
- Consigo sentir o cheiro de
semideus. Ah... é você pequenina. Meus filhos me falaram que seria uma garota
com cabelo estranho.- A voz do homem era bem grossa, e aparentemente ele não
entendia de beleza de cabelo. Ele achou o MEU cabelo estranho? Ele é só
ruivo/loiro escuro/castanho claro (depende da luz do sol) com as pontas rosas
com laranja! Completamente nada estranho, ele é lindo! O dele que era estranho!
Era claramente careca em cima, mas ele usava o cabelo dos cantos para tentar
esconder a sua calvície.
Eu simplesmente fechei a porta e
corri para tirar a minha mãe de lá, com o Nico sempre atrás de mim. Minha
intuição dizia que ia acontecer algo bem ruim.
Assim que saímos da sala ouvimos
um grande estrondo e o outro homem gritou:
-Venha cá pequena semideusa, eu
quero testar uma nova receita.
Eu corri até o meu quarto e o da
minha mãe e fechei a porta. Eu imaginei que minha mãe iria entrar em pânico ou
algo do gênero, mas ela só me abraçou e disse que sabia que esse dia chegaria.
Ela me contou rapidamente que meu pai era Apolo e que sabia que algo do tipo
podia acontecer já que ele me daria proteção até o dia em que eu conseguiria
cuidar de mim.
Bem, no fundo eu já sabia disso,
mas isso não impediu o choque.
Meu choque foi interrompido por
um grito. Minha avó gritava com todas as suas forças.
-Me solte seu grandalhão! Você
não tem respeito pelos mais velhos?! Me solte! Me solte!
Eu peguei as duas primeiras
coisas que vi na minha mesa, abri a porta e vi o primeiro cíclope carregando a
minha avó em seu ombro enquanto ela batia nele e puxava o que restava de seus
cabelos. O outro estava tentando tirar a minha avó de lá, mas aparentemente
cada vez que ele puxava ela, ela puxava mais os cabelos do primeiro. Eu vi
aquela cena e joguei uma das coisas que tinha pegado diretamente no olho do
primeiro ciclope. Não sei se foi sorte, mas o que eu tinha jogado era um pote
de glitter dourado que se abriu durante o vôo e acertou os olhos dos dois ao
mesmo tempo.
Os dois gritaram de dor e o
primeiro soltou a minha avó, que caiu no chão.
Corri até ela aproveitando que os dois estavam distraídos e a puxei para
um lugar seguro. Ela reclamou falando que seu pé estava doendo, mas também
disse que aquele cara era extremamente indelicado e desrespeitoso com vários
outros xingamentos.
Levantei no momento exato em que eles haviam
tirado o glitter do rosto. Os dois pareciam com raiva e se aproximaram de mim
muito rápido, mas eu joguei a outra coisa que peguei da escrivaninha e de novo,
acertei no olho, mas dessa vez só no segundo (acho que deixei ele beeem mais
zangados do que antes). A cola colorida
entrou bem no meio e o cíclope caiu no chão. O seu amigo, vendo isso investiu
contra mim, mas o Nico foi mais rápido e pulou nele mordendo o seu braço. O cíclope cambaleou para trás enquanto
tentava tirar o lobo de seu braço e caiu em cima do seu amigo. Infelizmente, o
monstro bateu o braço na parede e o Nico caiu ficando deitado no chão.
Peguei um guarda chuva que
estava perto da parede e entrei em guarda. Realmente achei que aquele era o meu
fim. O primeiro cíclope se levantou e parecia amaldiçoar alguém enquanto fazia
isso. O segundo se apoiou na janela para levantar, mas virou pó de repente.
-Bob! Nãaao!- Disse o primeiro
cíclope enquanto alcançava as cinzas do amigo.
No meio delas, eu percebi uma
flecha prateada cintilando. Logo depois eu vi outra flecha voando pela janela e
acertando o outro monstro, que também se tornou pó.
Não pensei duas vezes, larguei o
guarda-chuva e fui ajudar a minha avó. O pé dela parecia bem machucado e
inchado, mas ela era muito teimosa para admitir que precisava de ajuda. A levei
para o quarto junto com a minha mãe e a sentei na cama. Abaixei para analisar
melhor o machucado e passei a minha mão por cima, imaginando ficar melhor e
aconteceu!
Saiu uma Luz amarela da minha
mão e magicamente o pé se curou. Olhei para a minha mãe perguntando se ela
tinha visto isso, mas ela estava olhando para a porta. Lá, estava uma garota
com cabelos cacheados e castanhos de olhos também castanhos e que começou a
sorrir para mim. Ela usava uma capa azul com o pingente que parecia um trigo,
uma tiara cor de prata com uma lua no centro e segurava um arco preto com
roldanas. Vi em sua aljava, que estava em suas costas, as mesmas flechas
prateadas que acertaram os dois ciclopes.
- Você deu sorte de eu estar
passando por aqui. Ouvi a gritaria e resolvi ver o que estava acontecendo.- ela
se virou, checou a porta da frente depois voltou- Estávamos rastreando esses ciclopes tem uns
dias. Eles estavam arranjando confusão com os nossos lobos e falando nisso...
Vi que você achou o filhote fujão.- Ela olhou para o Nico caído no chão.
-Nico!- gritei enquanto corria
até ele.- Você está bem?
Ele se levantou e lambeu o meu
rosto.
-Nico? Você deu um nome para ele
?- Disse a garota
-Dei sim, ele me seguiu e até
pareceu gostar do nome- Ele me deu um ataque de beijinhos.- Nico! Pare, eu
estou bem também!
- Que interessante...
-O QUE ACONTECEU AQUI?- Minha
mãe não conseguiu mais se segurar.- O que ou quem eram aquelas coisas?! Como
elas sumiram?! Porque esse cachorro ainda tá aqui?! E quem é você?!
- Cíclopes atacaram, eu os
matei, aparentemente ele gostou da sua filha e eu sou a Rob, prazer. – ela
estendeu a mão para a minha mãe, mas ela não a segurou então a Rob a recolheu.-
Bem, eu sou a tenente das Caçadoras de Ártemis e estava procurando esse Lobinho
que fugiu do nosso acampamento.
Minha mãe congelou.
-Ártemis? A irmã gêmea de
Apolo?- Perguntei.
-Isso.- confirmou Rob
-Mãe! Ela trabalha para a irmã
do meu pai!
-É, eu vi isso Aurora...- Ela
parecia bem preocupada nessa hora.- Bem obrigada por nos salvar, pode levar o
cachorro e boa viagem.- Ela arrastou a Rob até a porta (que não havia sido
completamente destruída) e a fechou. Ela voltou correndo para o quarto e me
deixou lá avisando para eu não abrir mais a porta.
Por trás da porta, a Rob disse.
– Gostei de você garota! Acho que o Nico também, você tem potencial. - Ela
colocou um papel por debaixo da porta. - Nosso endereço está aí, você e seu
talento seriam muito bem vindos à caçada.
Ela saiu depois disso e eu
peguei o papel que tinha as seguintes instruções “Castelinho do parque, procure
a flecha. Garotos não são permitidos!”. O coloquei no bolso, que aparentemente
tinha algumas pedras ainda (sim, eu me esqueci delas na hora) e fui atrás da
minha mãe.
Ela estava o nosso quarto
olhando para as suas mãos e minha avó estava fazendo carinho em suas costas.
- Pode nos dar um minuto, mãe?-
Disse a minha mãe para a minha avó.
-Claro querida. – Ela beijou a
sua testa, me abraçou e saiu. Logo depois ela estava reclamando da bagunça na
sala e falando que não ia pagar pelo conserto.
-Venha aqui Aurora, se sente
comigo. – Eu me sentei ao seu lado na cama e vi um pingente dourado de arco e
flecha em um cordão de couro em suas mãos. – Bem, agora você já sabe a verdade
sobre você. Seu pai me pediu para lhe dar isso quando pudesse se proteger
sozinha e acho que agora é a hora.
Ela me entregou o colar e o
colocou em meu pescoço.
- Ele usava isso quando nos
conhecemos. – Aí ela me contou toda aquela história que eu já contei antes e
disse que não conseguiria mais me proteger, já que a benção de Apolo já tinha
terminado. Então eu lhe disse sobre o convite feito pela Rob e ela, com muito
pesar no coração, admitiu que seria uma boa ideia eu ir com ela. “ Pelo menos
você vai estar segura e ainda com sua família, de certo modo”, ela me disse.
Bem, acho que ela adivinhou que
essa seria a minha família também. Acho que não conseguiria ver a minha vida
sem vocês, meninas... Sinto muita falta da minha mãe e avó, mas acredito que
elas agora estão em um lugar melhor e minha avó com certeza estará reclamando
de alguma coisa.
Mas então...
Eu não expliquei como foi a minha chegada ao acampamento, certo?
Minha mãe e avó fizeram questão
de irem comigo. Rodamos o parque quase inteiro procurando esse tal “castelinho”
e quando estávamos indo para casa eu ouvi um latido familiar. Isso mesmo, era o
Nico correndo atrás do carro todo destrambelhado e passando por cima de tudo e
todos . Pedi para a minha mãe parar o
carro e o Nico foi para a porta me esperar.
-Cuide bem dela, tudo bem? –
Disse a minha mãe para o Nico, que respondeu com um latido.
Eu peguei a minha mala, a
coloquei no chão e abracei a minha mãe com força. Me despedi da minha avó com a
mesma tristeza e segui Nico até o acampamento.
Ele realmente era em um
castelinho e quando ia entrar percebi um símbolo de arco e flecha escondido no
primeiro aro da construção. Assim que o toquei a imagem foi se formando. Várias
meninas andando de um lado para o outro, atirando flechas, brincando com animais
e algumas sentadas lendo.
Segui Nico até uma cabana grande
onde estavam duas meninas conversando. Reconheci a Rob que ficou feliz em me
ver, mas a segunda garota também não me era estranha. Consegui sentir um poder
muito grande vindo dessa garota que fez o meu coração acelerar. Eu queria
fugir, mas também queria ficar só para ver o que acontecia.
-Aurora! Você veio! – A Rob me
comprimentou, deu um biscoito para Nico e ele saiu.- Minha senhora, esta é a
garota de quem lhe falei.
- Olá Aurora. – Sua voz era
suave e assim que disse o meu nome ela sorriu e eu me acalmei.- Soube que você
foi muito corajosa lidando com aqueles cíclopes e que salvou o pequeno lobo dos
filhos deles.
-Nico...- Disse baixinho.
- Isso mesmo, você lhe deu um
nome, certo? Sabia que quando um lobo da caçada aceita um nome de alguma
caçadora ele será fiel a ela em todos os momentos de sua vida?
- Mas eu não sou uma caçadora...
- Por enquanto. Gostaria de se
juntar a nós? Também sei que você tem os dons de cura do meu irmão, acredito
que será uma peça valiosa para nós. (Táaaaaa, ela não disse exatamente “Peça
Valiosa” , mas eu me senti assim, então deixa assim). Mas se lembre, você
ganhará a imortalidade, mas terá que negar a companhia dos homens por toda a
sua imortalidade. Caso o juramento seja quebrado, você a perderá.
- Mas vou poder manter contato
com a minha mãe e avó?
-Desde que não entregue a
localização do nosso acampamento, não vejo porque não.
- Então eu aceito. Eu gostaria
de me tornar uma caçadora.
- Muito bem, a Rob lhe mostrará
onde você irá ficar e após o seu treinamento teremos a sua iniciação. Seja bem
vinda à Caçada, Aurora.
Bem, eu e o Nico éramos
inseparáveis . A todo lugar que eu ia, ele ia também e por causa disso
crescemos muito juntos. Eu mantive contato com a minha mãe através de cartas e
ela me contou, três anos depois da minha partida, que ela havia encontrado
Apolo novamente, mas essa história eu conto depois. Por fim, no fim do meu
treinamento, eu fiz o juramento e me tornei uma caçadora oficialmente. Eu ainda
espero a minha iniciação, mas pelo o que eu ouvi das iniciações anteriores,
prefiro deixar assim.
Aurora
~Beijos de Luz da Aurora
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