Logo após o fantasma da caçadora
Claris contar sua história, a nova recruta da caçada levantou a mão e a Tenente
Cami concedeu a palavra a ela, que disse :
- Já que ta todo mundo falando, eu vou contar a minha
"hixtória" (sim, hixtória, pois ela é carioca, então esse é o seu
sotaque) também!
- Oi meninas,
não sei se todas já sabem... Sou a Caimana, filha de Atena e protegida por Hera
e vou contar a vocês como é a minha história.
Bom o começo
é aquela coisa bem clichê, meu pai era embaixador de Portugal no Rio de Janeiro,
o que de certa forma acabou chamando a atenção de Atena. Eles se conheceram e
meu pai acabou se envolvendo mais do que deveria com ela, desenvolvendo um amor
puro, daqueles bem verdadeiros, mas quando ele ia se declarar não conseguiu
encontrá-la em nenhum lugar da cidade. Desconfiado como sempre foi e muito
curioso, ele começou a ler os livros de mitologia que tinha em casa e descobriu
que a mulher por quem tinha se apaixonado era na realidade uma deusa. Aquela
noite foi como se o mundo tivesse acabado para ele... Algumas horas depois da
descoberta, a campainha da casa tocou e quando ele abriu a porta, viu somente
um berço de ouro com um bebê dentro e achou a situação impossível. Pegou a
carta que tinha em cima da manta que me cobria e leu:
´´Como já deve saber não posso dar a
você o que você quer. Gostaria muito de ficar com você e com esse bebê lindo,
mas infelizmente não posso deixar os meus deveres... Saiba que eu nunca a
deixarei de verdade, irei protegê-la até que ela consiga se proteger dos
perigos de ser minha filha sozinha... Cuide dela, ela será o NOSSO maior
tesouro.
Com todo carinho e
admiração Atena´´
Meu pai
basicamente enlouqueceu quando teve a confirmação de que a mulher que ele amava
era uma deusa. Depois de algumas semanas quando ele teve plena certeza de que
ela não retornaria mesmo, ele pesquisou em seus livros antigos sobre mitologia e
descobriu como se ´´entrega´´ uma criança para ser protegida por um deus, e
assim ele fez... Quando começou o ritual, ele sentiu cheiro de bebês (aquele
cheiro de sabonete de glicerina), então ele soube que ninguém menos do que a
rainha do Olimpo tinha aceitado sua oferta, sendo assim me tornei a primeira
filha de Atena a não ser totalmente odiada por Hera.
Alguns anos
depois, quando meu pai considerou que eu estava preparada para saber de tudo, ele
me contou quem era a minha mãe de verdade, porque eu sempre me dei tão bem com
bebês, porque eu sempre conseguia juntar casais (apesar de ODIAR isso), então
naquela noite eu sonhei com Atena e como já sabia de tudo, foi uma conversa
relativamente tranquila e rápida o suficiente para saber o que eu poderia
esperar sendo filha da sabedoria e protegida pela rainha dos céus, o que era
uma baita responsabilidade para uma menina de apenas 16 anos.
Quando
acordei na manhã seguinte fiz a minha rotina matinal, mas me sentia diferente,
como se finalmente a minha vida começasse a fazer sentido... Quando estava
pronta para ir para o colégio, encontrei em cima da minha cama aqueles
palitinhos de prender no cabelo (não sei o nome daquilo até hoje) e em cada um
deles tinha uma frase em grego antigo, que por incrível que pareça eu consegui
entender, em um dizia κόρη του Αθηνά (filha de Atena) e no outro προστατεύεται
από την Ήρα (protegida de
Hera).
Os coloquei no cabelo e segui para a sala... Quando cheguei à sala meu
pai disse que iríamos nos mudar do Rio de Janeiro para Brasília, por motivos
que eu não precisava saber (nem preciso dizer que fiquei FURIOSA), então
naquele dia eu nem fui para o colégio, pois precisava arrumar minhas coisas
para a viagem de carro até o Planalto Central, pois a minha querida madrasta
tinha medo de altura.
No
caminho passamos por diversas fazendas e em quase todas as vacas paravam de
pastar para acompanhar o carro com o olhar, o que me deixou bastante intrigada,
então perguntei ao meu pai:
“-
Porque as vacas estão olhando para o carro?” E ele respondeu:
“-
É o animal sagrado de Hera...”
Como
se fosse a coisa mais natural do mundo ser observada por vacas, mas okay... Continuei viajando no meu livro
e esqueci as vacas, até que elas começaram a me irritar de verdade e eu fechei
os olhos e tentei dormir.
Odiei
a cidade assim que pisei nela, pois como fui criada em uma cidade grande e
movimentada, achei Brasília muito parada e sem muitos atrativos para uma
adolescente, a não ser por um parque enorme e umas casas noturnas que custam os
olhos da cara e mais um rim, então a minha única saída era aquele parque
mesmo... Aos poucos acabei criando uma rotina que se resumia em ir para a
escola e para o parque. Em uma dessas idas, vi um grupo de pessoas brincando
com arcos, e como sempre gostei muito de arquearia me aproximei, mas como sou
MUITO tímida, não cheguei muito perto e sem querer esbarrei em uma senhora que
começou a coçar o nariz de uma maneira tão estranha que o nariz dela
LITERALMENTE caiu, o que me fez dar um grito - porque não é todo dia que um
nariz cai na sua frente - e perguntei para a senhora:
“-
O que é você?” Ela me olhou com cara de nojo e disse:
“-
Você tem muitos cheiros que eu não sei identificar... Some semideusa fétida!” E
a senhora simplesmente levantou vôo e foi embora.
No
caminho de volta para casa percebi uma movimentação na esquina da minha casa, o
que me deixou um pouco apreensiva - até porque no Rio tudo é suspeito - então
com muita calma eu cheguei perto e percebi que se tratava da mesma senhora do
parque, só que dessa vez ela estava acompanhada de outras duas e estavam
cercando um cachorrinho que parecia estar ferido, mas não demonstrava fraqueza
em momento algum. Me aproximei porque parecia ser um filhote, e eu tenho um
ponto fraquíssimo por filhotes, assim que cheguei perto elas se desesperaram e
saíram voando sem que eu tenha feito nada.
Assim
que elas saíram tomei coragem e me aproximei mais do filhote e percebi que não
era um filhote comum, mas sim um filhote de lobo que parecia estar bastante
assustado. Me aproximei com medo claro, vai que ele avançava em mim! Por
incrível que pareça ele deve ter confiado em mim, porque assim que eu me
abaixei próximo a ele, ele encostou a cabeça na minha perna e apagou... Foi aí
que eu observei que ele tinha uma coleira dourada com uma lua prateada que o
identificava como ´´Lilly´´. Percebi que “ele” na verdade era “ela” e resolvi
levar o filhote para casa até que alguém procurasse por ele, pois estava
começando a esfriar e como já disse, eu amo filhotes. Quando estava quase
entrando em casa pensei em como entraria com um lobo nos braços, mas quando
olhei para baixo ela tinha se transformado em um filhote de poodle, super
fofa... Claro que eu me apaixonei na mesma hora!
Quando
entrei em casa meus meio irmãos vieram correndo e gritando: - “MÃAAAAAAAAE, A
CAIMANA TROUXE UM FILHOTE, PODEMOS FICAR? DEIXA DEIXA DEIXA!!!...” Não tinha
como a minha madrasta negar aquele pedido, então subi com a Lilly para o meu
quarto tentando entender como ela havia se transformado de lobo para cachorro
tão rápido.
Tentei
conversar com a minha protetora (sim no sonho que tive, Atena disse que não
poderia nunca mais tentar me comunicar com ela) para tentar descobrir o que
eram aquelas senhoras e o que fez aquele cachorro trocar de forma tão rápido. Depois
de horas tentando acabei dormindo de exaustão e sem respostas, foi quando
sonhei com uma mulher muito bonita de branco e com muitos acessórios dourados
sentada em um trono que me chamou para conversar com ela, na mesma hora tive
certeza de quem era...
Hera
me explicou que aquelas senhoras na verdade eram fúrias que estavam atrás de
mim desde que cheguei a Brasília, e que aquele lobo pertencia a uma deusa do
Olimpo que ela não podia me dizer o nome, mas que eu descobriria antes de
esperado. Ela explicou que o lobo havia trocado de forma por causa da névoa que
dividia o mundo divino do mundo mortal, e antes de ir me disse para manter a
atenção redobrada, porque muitas coisas iriam acontecer agora que as fúrias
haviam me encontrado. Acordei assustada, era informação demais para processar
no meio da noite, foi quando olhei para a beirada da minha cama e vi que a
Lilly estava pedindo permissão para dormir comigo, quando a coloquei na cama
parece que foi instantâneo as duas dormiram e dessa vez sem sonhos.
Em
uma noite depois de treinar muito, cheguei em casa tão cansada que dormi e só
acordei com meu pai me chamando, dizendo ele que queria ter uma conversa séria
comigo, e assim ele me contou que encontrou com a minha mãe alguns anos atrás e
ela tinha escrito uma carta para mim que ele estava esperando a hora certa de
me entregar. A carta dizia:
´´Minha
filha, eu sei que você sabe bem quem é e também sei que consegue se cuidar
sozinha, mas como semideusa você precisa entender que o mundo não é esse mar de
rosas que aparenta ser... Existem seres que vão querer te destruir a todo
custo, só para ter o prazer de derramar o seu sangue de semideus... Seu sangue é
objeto de vingança para os monstros que nós deuses mandamos para o Tártaro. Então
tudo que eu peço é que você tenha todo o cuidado que puder, sempre suspeite de
qualquer pessoa que aja estranho com você e saiba que sempre estarei te
protegendo!
Com amor
Atena´´
Juntando essa carta da minha mãe e o
sonho que tive com Hera tive certeza de que corria perigo, então levei meu
treinamento muito mais a sério do que já levava. Em um determinado dia resolvi
sair para espairecer a minha cabeça e fui a um festival de cultura japonesa que
estava acontecendo na quadra de cima de onde eu morava. O nome era Quermesse do
Templo, ou algo assim. Nesse dia não encontrei a Lilly para ir comigo, mas
levei o presente da minha protetora, prendi meu cabelo com os palitinhos e fui
em direção ao templo.
Assim que
cheguei na Quermesse vi as mesmas senhoras estranhas na entrada esperando por
algo, então tentei entrar pelos fundos, o que foi a pior ideia que poderia ter
tido naquele momento, pois assim que coloquei o pé na parte de trás do tal Templo,
as Fúrias me cercaram por todos os lados. Sem saída, só conseguia pensar ´´Hera
me ajude!´´ Naquele instante eu olhei pro lado e vi que a Lilly tinha aparecido
como se fosse uma resposta de Hera de que ela estava ali comigo. Senti algo
esquentar no meu cabelo, então tirei os palitinhos que estavam brilhando de uma
forma tão intensa que eu fiquei encantada... Eles pareciam se atrair então os
coloquei próximos. Eles se uniram formando uma espécie de espada com uma coruja
(minha mãe) e chifres (minha protetora) na base.
Como havia
treinado esgrima alguns anos atrás, foi relativamente fácil, assim que as
senhoras viram a espada brilhando num bronze profundo, elas se transformaram em
um ser alado, com olhos que tive a impressão de ver sangue e os cabelos
trançados com cobras, e
sem pensar duas vezes avançaram em mim. Lilly avançou para elas na tentativa de
me proteger... Elas vieram com as garras para cima do meu filhote, e quando vi
aquilo não pensei duas vezes e entrei na frente conseguindo acerta-las. Duas se
desintegraram na minha frente, porém a terceira me acertou em cheio nas costas
e eu cai arqueando de dor, a ultima coisa que vi foi uma flecha prateada
acertando o meio do peito da terceira fúria. Consegui ouvir uma voz que dizia: “-Deixa
ela aí, só vai dar mais trabalho...” antes de desmaiar achando que seria o meu
fim.
Quando
acordei estava na enfermaria de uma espécie de acampamento só para meninas, na
hora que tentei levantar uma menina chamada Kennis disse que era melhor que eu
continuasse deitada. Ela me explicou que ela e outra menina chamada Aurora me
encontraram muito machucada no chão e me levaram para o acampamento mesmo
contra a sua vontade.
Sinceramente
eu não estava muito interessada em saber o quão machucada estava quando fui
resgatada, estava muito preocupada com a Lilly, então a primeira coisa que
disse foi: “-Onde está a Lilly?” Kennis me disse que Lilly estava bem e que foi
graças a ela que eu havia sido encontrada, pois ela e Aurora estavam a mais ou
menos um mês procurando o lobinho de Lady Ártemis que havia desaparecido. Depois
disso perguntei para Kennis se poderia levantar, até porque não aguentava mais
ficar deitada.
Ela
me acompanhou pelo acampamento até encontrarmos Aurora, que estava treinando arco
e estava com a Lilly e mais um cachorro (ou seria um lobo?) ao seu lado. Quando
Lilly me viu correu para cima de mim, e ali eu consegui me sentir um pouco
melhor sabendo que ela estava bem. Aurora olhou de forma estranha para Kennis
junto de mim, mas não disse nada (acredito que para não criar um climão). Ela
virou e me disse:
“-Que bom
que acordou, estava pensando que poderia ter acontecido algo pior... Mas já que
está aqui, quer treinar comigo?” Ela estava treinando arco e levando em conta
que tinha acabado de ser atacada estava até indo bem.
Depois
de algum tempo elas me levaram para conhecer a subtenente Obi Wana, que disse
que eu tinha sido muito corajosa me colocando na frente das fúrias para
defender a Lilly. Ela me perguntou se eu gostaria de me unir à caçada, mas já
me avisou que eu seria recruta até que a própria Lady Ártemis tomasse sua
decisão, aceitei sem nem pensar duas vezes... Entretanto lembrei que precisava
ir em casa buscar minhas coisas, então perguntei se alguma delas poderia me
acompanhar. Não me pergunte por que, mas a minha companheira acabou sendo quem
eu menos esperava... Isso mesmo, a Kennis foi comigo e no caminho até a minha
casa, que não era tão longe assim do acampamento, nós fomos conversando e eu
descobri que ela não gostava tanto de mim porque eu tinha um cheiro conhecido,
mas ao mesmo tempo estranho para ela. Segundo ela eu tinha cheiro de coruja,
como ela, mas parecia ter outro cheiro em mim. Neste momento contei para ela da
proteção de Hera e toda a história que contei anteriormente.
Kennis ensinado Caimana a atirar . |
Quando
chegamos minha casa estava vazia, como já era de costume, então fui ao meu
quarto buscar algumas roupas e a réplica de Atena que tinha ganhado de
aniversário. Fui ao escritório do meu pai na esperança de encontrá-lo, mas
estava completamente vazio, então deixei uma carta explicando tudo e sai do
escritório com os olhos cheios de lágrimas por deixar minha família. Sabia que
era necessário pois não poderia colocar eles em risco, e tinha a plena certeza
de que iria encontrar uma família junto com as caçadoras.
Quando
cheguei à sala, entreguei a estátua de Atena para Kennis e disse: “-Proteção da
nossa mãe nunca é demais! Espero que goste.” Ela abriu um sorriso tão grande e
sincero que eu vi ali que ela não era tão mal humorada quanto eu achava, então
retribui o sorriso e voltamos ao acampamento, aonde eu iria à procura de uma
nova vida, buscando um novo capítulo para a minha história.E essa foi a história de hoje! Espero que tenham gostado e aguardem até semana que vem para a próxima história.
Até algum dia nessa grande galáxia!
Que a Força esteja com você !
Sub Tenente Obi Wana
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